Todos os dias quando chega à escola Isaias está sorrindo. A animação do jovem de 15 anos contagia a todos. Sempre disposto em aprender, o adolescente que sonha em ser professor de matemática presta atenção em cada detalhe das aulas, que depois é repassado ponto a ponto para o irmão mais novo, Lucas Gabriel Moraes, de 11 anos, que tem TDAH.

Isaías nasceu surdo e com outras comorbidades, como o autismo e a distonia congênita. Na Rede Municipal de Ensino, ele conta com apoio escolar especializado, o que tem sido fundamental para a evolução dele e do irmão, diz dona Aparecida Lopes de Moraes, de 54 anos, mãe dos meninos.

“Durante esses 15 anos percorremos um percurso bem grande na questão de saúde e atendimento. Hoje ele está no 8º ano e a escola é maravilhosa. Ele tem uma intérprete que entende de autismo, então o desenvolvimento dele é bem melhor. Ele já lê, do jeitinho dele, na limitação dele. Ele lê as palavras. Exemplo: domingo, casa, pai. É assim que ele escreve e é assim que ele lê”, explica.

A matéria preferida é matemática, e Isaías já sabe o que vai ser quando crescer. “Ele diz que vai ser professor. Todos os dias quando chega em casa repete as aulas que teve na escola para o irmão. Ele tem um quadro branco e os canetões. Então, ele coloca as aulas de matemática, de ciência, de língua portuguesa e aí eu percebo o aprendizado dele. Eu não preciso vir aqui para saber como está o meu filho, só pelo o que ele passa no quadro eu já sei”, complementa a mãe.

Para ela, é muito importante quando a escola tem esse envolvimento com os alunos especiais. “Eu vejo que a equipe Semed trabalha muito bem. Todas as escolas municipais têm esse atendimento, então não importa o bairro que você esteja. Quando chega a uma escola municipal, se não tem uma intérprete, tem uma técnica, que também sabe lidar com o aluno, com a família”, diz.

Sabendo da importância em assegurar melhores condições para todos de maneira igualitária, dentro das diferenças, fazendo Campo Grande a Capital das Oportunidades, a Prefeitura conta hoje dentro da Rede Municipal de Ensino com 1.191 profissionais de apoio, que atendem 3.155 crianças com deficiência nas unidades escolares. Apenas neste ano, foram realizadas duas chamadas referentes a dois processos seletivos para Assistente Educacional Inclusivo.

Uma dessas profissionais é a intérprete de Libras na Escola Municipal João Evangelista Vieira de Almeida, onde Isaías estuda, Anita Cláudia Gonçalves Lemes, que fala sobre o desenvolvimento do adolescente. “Ele é um aluno que cresceu muito. A gente usa muito material de apoio com ele, com imagens reais, atividades adaptadas que facilitam a compreensão dele quando o professor está explicando o conteúdo, e também a interação com os colegas. Ele participa de todas as atividades de grupo. Semanas antes das férias, eles tiveram uma atividade de língua portuguesa e o grupo dele fez várias perguntas, eu traduzia e repassava a resposta para ele, tudo para que participe em todo o momento de todas as atividades. Ele não fica fora de nada”, conta.

Para a intérprete, a importância disso é a inclusão real na comunidade escolar. “Ele não está apenas entre os surdos. Aqui desenvolve outras linguagens, não apenas a dele. Vai poder se comunicar com outras pessoas, não apenas no próprio grupo. Podendo ter uma vida mais independente e autônoma”, explica.

Mãe do adolescente Oliver Santana de Deus, de 13 anos, estudante da 8ª série, também na E. M. João Evangelista Vieira de Almeida, Valdirene Barbosa do Santana, de 51 anos, concorda. Ela diz que o apoio escolar a ajudou perceber as limitações do filho e assim ajudá-lo melhor.

“Desde pequenino o Oliver era muito agitado, mas eu achava normal. Até que quando ele entrou para o ensino fundamental as situações escolares foram ficando cada vez mais difíceis. “Ele não parava quieto na sala de aula, ficava andando por toda a sala, atrapalhava os outros alunos… Aí a professora falou que eu precisava ir atrás de um psicólogo. Foi quando ele recebeu o laudo de autismo”, conta.

Com o laudo em mãos, Valdirene procurou a escola e pediu atendimento especializado para o filho. A escola acolheu e direcionou um profissional de apoio. “Ele foi desenvolvendo, e hoje, ele gosta de ir para a escola, de conversar, é super inteligente. Faz pergunta que a gente não sabe nem responder. Graças a Deus eu consegui uma escola que entende o meu filho. É duro quando você tem um filho e ele sofre, é humilhado, fazem bullying com ele. Graças a Deus isso nunca aconteceu com o Oliver”, diz.

Entre os 3,1 mil alunos com deficiência atendidos pela Rede Municipal de Ensino, 1.370 são autistas. Os estudantes da Reme, com as mais diferentes deficiências, estão incluídos e distribuídos pelas unidades escolares, e em cada sala de aula onde existe um aluno com deficiência também há um profissional de apoio para auxiliá-lo na inclusão.

A Escola Municipal Nerone Maiolino, que tem atendimento inclusivo, passou por uma reforma que será entregue dentro do calendário alusivo das festividades de 123 anos de Campo Grande. A escola atende 1.200 alunos, do grupo 4 ao 9º ano, além de oferecer o EJA no período noturno.

A Reme ainda conta com 69 salas de recursos multifuncionais para realizar o atendimento educacional especializado e prepara mais oito novas, que estarão em funcionamento a partir de agosto – mês de aniversário de Campo Grande – totalizando 77 salas.