Quem chega na indústria Aço & Aço, localizada no Polo Empresarial Norte de Campo Grande, não imagina que tudo começou anos atrás com a coleta seletiva de lixo pela cidade. A indústria que hoje ocupa 20 mil metros quadrados de área cresceu ao longo dos anos e foi se transformando com as mudanças de mercado. Da coleta seletiva, que antes era recolhida nas ruas, a família Coin passou a trabalhar com alumínio. Até desenvolveram equipamentos de reciclagem da lata de alumínio, que foram vendidos para diversos estados brasileiros que atuavam no ramo.

Mas foi com a sucata de ferro que a empresa virou a chave e se transformou em uma indústria. Dos cinco funcionários do início, lá nos meados de 2000, quando eles foram contemplados com o Prodes, hoje são 170, contando trabalhadores diretos e terceirizados. E a ideia é crescer ainda mais com as possibilidades que a Rota Bioceânica e o Parque Tecnológico trazem para Campo Grande.

“O Prodes foi fundamental para o nosso crescimento. Essa parceria – entre o poder público e o privado – é uma via de mão dupla. Para o empresário é fundamental para o crescimento. Tivemos uma visão de vir para uma área que era ainda rural, na época, não tínhamos asfalto, não tínhamos ônibus, não tínhamos o que temos hoje, então o empresário também encara o desafio e constrói junto. Isso é uma parceria, é fazer esse fomento”, diz Vanessa Coin, que é administradora de empresa, e cuida dos negócios junto da família.

Ela explica que eles fecham toda a cadeia produtiva do ferro. “Nessa especialização, na revalorização da sucata de ferro, surgiu a oportunidade de nós montarmos uma indústria na linha da construção civil, fechando o ciclo entre fazer a matéria prima e produzir o produto acabado, terminando o ciclo na construção civil”, explica.

São montanhas e montanhas de sucatas espalhadas na área que a empresa ocupa, que no mês acumulam cerca de 3,5 mil toneladas de ferro, que são selecionados e transformados em matéria prima que vai para a indústria siderúrgica e depois volta em fio máquina para virar vergalhão, prego, treliça, tela soldada, coluna, tela para piso e tanto outros materiais metálicos usados na construção de casas, prédios e condomínios por todo o Mato Grosso do Sul.

A indústria ainda atende a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece instrumentos e diretrizes para os setores públicos e as empresas lidarem com os resíduos gerados. Cumpre ainda os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) 9 e 12 que tratam sobre a construção de infraestruturas resilientes, promoção da industrialização inclusiva e sustentável e fomento à inovação e ao consumo sustentável.

“Nós somos credenciados para retirar sucata inservível, que são os veículos que não vão mais para circulação. A gente compra através de leilão de todos os Detrans de Mato Grosso do Sul e também de todas as delegacias de veículos apreendidos. Então, nós fazemos a retirada desse veículo, traz para o nosso prédio, faz a descontaminação, separa todos os tipos de material (pneu, alumínio e etc.) e dá destino correto para cada coisa por meio de parceiros. A sucata de ferro a gente utiliza”, ressalta.

Outra inovação é a venda personalizada, no estilo corte dobra. Ou seja, eles transformam o que o engenheiro projetista faz e já entrega cortado e dobrado, então não há perda de material. “Vem um papel para nós que é a planta do calculista e nós transformamos em peças etiquetadas e mandamos de volta para a obra. Com isso se tem uma obra limpa, com menor tempo de processamento e tempo de canteiro. A mão de obra continua sendo usada, porque é ela quem faz a montagem, mas é muito mais limpo”, conclui.

Falando ainda do mercado da construção civil, hoje a Aço & Aço está entre os três maiores fornecedores do Mato Grosso do Sul, e atende todo o estado, além de Rondonópolis e parte do estado de São Paulo, a partir de Campo Grande. Com a Rota Bioceânica, eles pretendem melhorar a parte de importação de material que vem da China. “Para nós vai ser uma diminuição de custo e de tempo. Tudo que a gente consegue reduzir vira lucro e por consequência crescimento. Além disso, entrando pelo nosso estado tem a geração de renda aqui dentro, em vez de gerarmos renda para outro estado e fazer um transporte passando por mais dois estados até chegar aqui”, diz.

“As oportunidades geradas para o setor de serviços, para a indústria e para o turismo, que a integração entre os países da Rota Bioceânica proporcionará são enormes. Além de nos tornarmos a capital brasileira mais próxima de Antofagasta (Chile) com a conclusão da ponte sobre o Rio Paraguai em Porto Murtinho, Campo Grande será também a maior cidade da chamada Rota Bioceânica”, destaca o secretário Municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio, Adelaido Vila.

Sobre o Parque tecnológico, Vanessa afirma que para empresários da linha da indústria, como ela, o local vem preencher uma lacuna existente em Mato Grosso do Sul. “Hoje a gente precisa qualificar nosso jovem, despertar neles essa vontade de querer fazer, de querer crescer. Uma das maiores dificuldades é formar novos talentos e reter esses talentos. Despertar neles que em Campo Grande, que no Mato Grosso do Sul, tem empresas que eles podem fazer grandes carreiras, que eles não precisam mais sair daqui. Hoje temos uma cidade industrializada”, finaliza.

“A integração é a força da inovação. A cultura inovadora, incentivada pela instalação do Parktec CG, é fundamental na busca pela democratização da informação, e, juntas, contribuem para o desenvolvimento econômico regional, criando empregos de alta tecnologia e inovadores, estimulando a criação de startups e atraindo investimentos estrangeiros. O Parque é um ambiente projetado para promover esses objetivos, impulsionando o progresso científico por meio da inovação”, finaliza a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes.