Com o fim da soltura dos wolbitos (mosquitos que contém a bactéria Wolbachia) em Campo Grande, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o World Mosquito Program (WMP), a Prefeitura de Campo Grande, além do Governo de Estado do Mato Grosso do Sul, deve monitorar o Método Wolbachia pelos próximos dois anos no município.

Para a secretaria municipal de Saúde (Sesau), Rosana Leite, o Método Wolbachia representa apenas uma das armas contra às arboviroses (dengue, zika e chikungunya). “O desafio foi aceito e a participação de toda a população, das secretarias municipal e estadual, além de todos os demais apoiadores, com o engajamento foi essencial ao explicar sobre o que era esse projeto. Foi um trabalho incansável, principalmente, dos nossos agentes. Esta é apenas uma das ferramentas, mas nunca podemos esquecer de cuidar dos nossos domicílios e de se vacinar”.

A superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Veruska Lahdo, explica que os resultados embora ainda de maneira parcial, demostram importantes avanços no combate às arboviroses (principalmente contra a dengue e chikungunya) no município. “Nós tivemos seis fases realizadas em Campo Grande durante esses quatro anos de projeto. Há sinais de bons estabelecimentos do mosquito em toda as regiões da cidade contendo a presença da bactéria. Com isso, nós esperamos colher resultados positivos para a nossa Capital”, esclarece.

O líder do WMP no Brasil e pesquisador da Fiocruz, Luciano Moreira, destaca o empenho e o esforço de todos os agentes envolvidos, em especial o município de Campo Grande por ter abrigado o projeto. “Agradeço a parceria de todos os envolvidos. Hoje, finalizamos essa etapa do método que contou com o envolvimento de muitas pessoas. Isto foi um elemento de grande sucesso e resultado de muito esforço destas equipes para que pudéssemos trazer esse método para toda a população. É com muito orgulho que agradeço a todos vocês. Assim, este monitoramento do projeto continuará pelos próximos dois anos na Capital”.

A eficácia do método é comprovada. No Brasil, houve uma redução de até 70% nos casos de dengue e de 60% nos casos de chikungunya em Niterói, que se tornou o município com menor número de casos de dengue no Estado do Rio de Janeiro, registrando apenas nove casos até abril de 2023.

Engajamento comunitário

O engajamento comunitário é fundamental para a implementação do Método Wolbachia. Cerca de 500 agentes foram capacitados para dialogar com a população, esclarecer dúvidas e apresentar o funcionamento do método. Durante esta etapa, 385.000 pessoas foram diretamente alcançadas.

Com o objetivo de intensificar o estabelecimento dos Wolbitos, Campo Grande desenvolveu a iniciativa “Wolbito em Casa”, que envolveu 1.695 alunos de 17 escolas municipais. Esses alunos levaram cápsulas com ovos de Wolbachia para casa e cuidaram de seu desenvolvimento.

Método Wolbachia em Campo Grande (MS)

O Método Wolbachia consiste na liberação de Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que impede que os vírus da dengue, Zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam dentro do mosquito. Esses mosquitos se reproduzem com os mosquitos locais, gerando uma nova população com Wolbachia. Com o tempo, a porcentagem de mosquitos infectados com a bactéria aumenta, eliminando a necessidade de novas liberações.

Desde o início do planejamento em 2019 e o começo das operações em 2020, o projeto tem alcançado resultados positivos. Em seis fases, abrangeu 74 bairros e sete regiões urbanas, atendendo aproximadamente 130.000 pessoas por fase. Durante todo o período, mais de 900.000 pessoas foram beneficiadas, com a produção de aproximadamente 2,7 kg de ovos, 870.000 tubos e a liberação de 102 milhões de mosquitos.

Para potencializar a implementação do método, Campo Grande ganhou uma biofábrica para a produção desses mosquitos. Os ovos do Aedes aegypti com Wolbachia eram enviados do Rio de Janeiro e acompanhados até a fase adulta na biofábrica local, onde eram liberados em ciclos de 16 semanas. Assim, nasciam em berço campo-grandense os mosquitos pantaneiros com Wolbachia.

Uma das estratégias utilizadas foi o Dispositivo de Liberação de Ovos (DLO) na região das Moreninhas, conhecido como “Casa do Wolbito”. Esta estratégia envolveu a comunidade na liberação de ovos de mosquitos com Wolbachia.